Abro o jornal e foi como se acordasse de um sonho estranho,
um gosto de vidro e corte. No jornal “O Tempo” de 5 de outubro de 2014 leio um
artigo ofendendo o Partido dos Trabalhadores, PT, partido que ajudei a fundar e
a que dediquei grande parte da minha vida. Sim, sei que o papel aceita tudo,
sim sei que a direita loteou a imprensa com um bando de sicofantas, criando uma
nova profissão: o odiador profissional do PT.
Acontece que que o artigo não era do “Diogro” Mainnerd,
Palhares Javor, do Demérito Cro-Magnoli ou do Nefando Marco Antônio Vila-Baixa.
Não gente, era do cara que admiramos, que escreveu numa música que “o artista
tem de ir aonde o povo está”, era Fernando Brant!
Ele defende o voto em Aécio Neves! O Fernando Brant acredita
que Aécio é o povo! Sobre o PT, escreve: “O PT está fazendo um estrago enorme
no país do ponto de vista da liberdade, da cultura e da gestão propriamente
dita. O atual Governo rouba muito e gerencia muito mal”. Ouviu, Patrus? Ouviu Nilmário? Ouviu Durval,
Rogério?
O Fernando está nos chamando de ladrões e de incompetentes!
E xinga também o PCdoB, ouviu Jô Moraes? Ele diz que o PCdoB e o PT prejudicam
a classe artística!
Acontece, Fernando Brant, que descobri que minha arma é o
que a minha memória guarda dos tempos da Panair. Minha memória me conta de quem
fez a compra de votos para reeleição, a privataria, o escândalo do SIVAM, do
juiz Lalau, do banco Marka e quem começou o “Mensalão” com Marcos Valério. (Ver
o jornal “O Tempo” 7/02/2006)
Isso não te escandaliza, Fernando Brant?
Você escreve: “O PT está transformando o Brasil em uma
ditadura stalinista.” Você não fala de coisas reais. A impressão que tenho é
que você lê o jornal “Estrago de Minas” e acredita.
Santa ingenuidade! Desconfio que você deva ter acreditado
até no “Déficit Zero”! Há eleições, as instituições funcionam normalmente, temos
liberdade partidária, de manifestação, de imprensa (até para caluniar, como
você faz), direito de greve, Ministério Público e tudo. Onde Ditadura,
Fernando?
Governo do PT, Stalinista? Existem campos de concentração, o
Governo prendeu ou matou alguém? Tem partido único? Como diz a Bíblia: “Cada um
fala daquilo que no coração lhe abunda”. Acusar os outros sem prova, isto sim
cheira a stalinismo.
Já que você está caçando stalinismo eu vou lhe dar uma
pista: O Roberto Freire conseguiu fazer algo que nem a Ditadura Militar
conseguiu: acabar com o partidão, o antigo PCB. Ele o transformou em PPS –
Perigosas Peruas Socialistas. Neste partido você não vai encontrar nenhum
socialista, nenhum comunista. Mas vai encontrar o stalinismo que procura.
Pois bem, essa figura melíflua e repulsiva chamada Roberto Freire
apoia o candidato querido, Aécio Neves! Controlar a imprensa como fez em Minas
o seu fofo candidato Aécio, isso sim cheira a stalinismo.
Minas é a terra de Borjalo, Mangabeira, Ziraldo e de Henfil,
nosso maior chargista. Pois bem, nos oito anos de Aécio e nos quatro de
Anastasia, você não vai encontrar uma única charge criticando os dois,
Fernando! Porque não podia, Fernando!
O chargista seria demitido como foi o Kajuru, como foi o
jornalista do MGTV. Isso não te escandaliza, Fernando?
Quem mata gente é o “Choque de Gestão” do Aécio. Na Cemig,
terceirização, marca registrada dos tucanos, mata um trabalhador a cada 45
dias, vítima de acidente de trabalho. Mas isso não sai nos jornais porque não
deixam, Fernando!
Sabe a Maria-Maria, aquela que “não vive, apenas aguenta” na
sua música? Com o Governo do PT, Maria-Maria mudou de vida, passou a andar de
avião, tem luz em casa, tem Fernando! Tudo graças ao Governo que você xinga. Os
filhos da Maria-Maria agora podem estudar também. Achei que você fosse se
alegrar com isso, Fernando.
Você diz que passou 21 dias anos da sua vida aguentando uma
ditadura. Eu também. E sabe quem não passou? O Abi-Ackel. Ele passou fazendo a
ditadura como Ministro da Justiça. Entre suas tarefas estava a censura e a
urdidura da Lei dos Estrangeiros, que visava trocar prisioneiros políticos com
as ditaduras vizinhas. Pois bem, ele foi secretário do primeiro mandato de
Aécio. O partido da ditadura, a Arena, virou PDS, virou PFL e depois virou “Democratas”.
Seu irmão, quando confessou caixa dois, estava nesse partido. Esse partido que
é o grande inimigo da Comissão de Verdade e é o maior aliado dos tucanos e do
seu amado Aécio.
Isso não te escandaliza, Fernando?
No Pasquim, no Humordaz, na Folha e em vários jornais lutei
contra a ditadura usando as minhas charges. O Clube da Esquina lutou com suas
músicas. E confesso que suas músicas me animavam nesta luta. Eu acreditava nas
suas letras.
Desconfio, Fernando, que o PT e o PCdoB lutaram um pouco
mais que nós. Lula, por exemplo, organizou os operários, comandou greves, foi
perseguido e preso.
P PCdoB fez a guerrilha do Araguaia e seus militantes deram
a vida nessa luta. Dentre eles o
Oswaldão. Esse sim, um mineiro à altura de Tiradentes, o oposto desse mineiro ostentação
que é o Aécio Neves, conhecido fora do “Clube da Esquina” como “Menino do Rio”.
O PT não é partido só meu e de milhões de eleitores. É o
Partido de Sérgio Buarque de Hollanda,
Paulo Freire, Chico Mendes, Florestan Fernandes, Luís Carlos Prestes, Mário
Pedrosa , Antônio Cândido, Celso Furtado, Apolônio de Carvalho, Antônio
Callado, Marilena Chauí, Lélio Abramo, Nelson pereira dos Santos, Perseu
Abramo, Célio de Castro, Dona Helena Greco, Fernando de Morais, Antônio e
Camila Pitanga, Paulo Betti, Antônio Fagundes, Zé de Abreu, Luís Fernando
Veríssimo, Chico César, Otto, Luís Melodia, Pereira da Viola, Regina Souza,
Vander Lee, Aldir Blanc, Marina Lima, Zé Celso Martinez, Hildegard Angel, Beth
Carvalho, Nelson Sargento, Leonardo Boff, Frei Betto, Carlito Maia, Sérgio
Mamberti, Betinho e Henfil, Chico Buarque, Toninho Horta e Wagner Tiso, entre outros.
Se você acha que essa turma atrapalha a cultura brasileira ,
o problema é seu.
Claro que vocês também têm um time de peso: Ronaldinho,
Zico, César Menotti e Fabiano, William Waasp, Luciano Huck, Sandy e Júnior,
Cifrãozinho e Pororó, Fagner, Jabor, Mainardi, Caio Blind, Lucas Mendes, Roger,
Lobão, Josta Quest, Enerval Pereira, Sinhozinho Malta, Regina Duarte, Maitê
Proença, Odete Roithman, João Dória Jr, Oldack Esteves, Ronaldo Praga, Armínio
Praga, Paulo Paia, Levy Fidelix, Bolsonaro, Feliciano, Malafaia, Tiago Lacerda,
Marcelo Madureira, Jarbas Passarinho, Ronaldo Caiado e Dado Dolabela. O que
seria da cultura brasileira sem eles?
Estranho esse seu Aécio, Fernando. Ele Casou e foi para Nova
Iorque passar sua lua de mel com investidores abutres. Tremo ao pensar o que
lhes terá prometido: subir a gasolina, abaixar os salários, entregar o pré-sal
e ajudar o Tio Sam-grento a submeter novamente os países da América Latina que
escapam da canga dos “Istazunidos” e teimam em cantar a canção da Unidade
Latino americana.
Tremei bolivarianos! Vai
começar a nova operação Condor, liderada pro Aécio Neves, ungido pelo
lixo ocidental ao posto de caçador de inconfidentes, petistas, libertadores da
América, Djangos livres.
Querem os tucanos que o Brasil volte a falar grosso com os hermanos do continente e a falar fino
com os istazunidos, como disse Chico Buarque.
Fernando, o que tem em comum com Tancredo Neves o Aécio,
fora o sobrenome? O que diria ele vendo o neto reprimir manifestações de rua
ou a greve dos professores com a
policia?
Tancredo morreria de novo vendo Aécio se calar ou aprovar as
privatizações das empresas estatais que ele sempre defendeu, ao lado de Getúlio
e Juscelino.
Teotônio Vilela começou na direita e se converteu á
esquerda! Que pena, Fernando, que você fez o contrário do “Menestrel das
Alagoas”. Você não fala mais na bota e no anel de Zapata!
Como um dia guardamos você no lado esquerdo do peito, queria
que você encontrasse aquele verso menino de tantos anos atrás. Falo assim com
tristeza, falo por acreditar que é cobrando o que fomos que nós iremos crescer.
Queria ouvir todos os alarmas dizendo que o homem que você
era voltou.
Outros outubros virão!
Fernando, o que vou dizer você nunca ouviu de mim, coração
civil.
A julgar por suas crônicas medianas no Estado de Minas” e
por esse artigo sicofanta no Tempo, temo que a perda seja total. Do letrista
genial que era, Fernando Brant talvez acabe na Revista Veja, substituindo o
Lobão como odiador profissional da esquerda.
Nilson
Chargista e eleitor da Dilma.
P.S: Eu confesso, sou do PT e confesso que roubei. Roubei
pedaços de suas letras para lhe dar má resposta que você mereceu.